Comunidade negra debate exclusão e preconceito em Taboão da Serra

Por Sandra Pereira | 16/05/2013

Ser exceção mesmo sendo maioria. Ter que lutar pelos chamados espaços de poder ao mesmo tempo em que se é “ignorado” pelos seus detentores. Estar consciente de que a luta em favor da igualdade entre negros e brancos ainda tem um longo caminho pela frente. Esses são os desafios diários que os descentes dos escravos enfrentam em seu cotidiano. Também foram o foco central do encontro denominado de Reflexões sobre uma abolição inacabada, 125 anos depois, realizado nesta quarta-feira, 15, na Câmara Municipal de Taboão da Serra, para celebrar a passagem do dia 13 de maio, quando o Brasil comemora a abolição dos escravos. O encontro apontou que o caminho para vencer o abismo que ainda separa negros e brancos é a educação e a implantação de políticas afirmativas, como as cotas.

O debate sobre a abolição inacabada contou com a participação da deputada estadual pelo PC do B, Leci Brandão, e Cícero Almeida, integrante do SOS Racismo da Assembleia Legislativa de São Paulo. O evento foi promovido pelo Centro Cultural Sítio dos Palmares e o Movimento Negro de Taboão da Serra sob a coordenação de Rose Menezes. Os vereadores Moreira, Lune e Érica da Enfermagem estiveram no evento que contou com a participação de várias entidades de religião com matriz africana.

 “Somos exceção porque o negro não está no poder ainda. Pelo número de congressistas fica claro que somos exceção. Mas,  a  gente não tem que ser exceção de mais nada. Essa é a luta que a gente vem fazendo. Faço isso nos meus 38 anos de carreira e dois de mandato. Sempre atuei com a proposta de fazer da arte um instrumento em defesa do povo negro. Falo focando São Paulo e o Brasil inteiro”, afirmou a deputada.

Ela relatou que os problemas enfrentados pela população negra ainda são tratados como “se fosse coisa de extra-terrestre”. “Fica todo mundo espantado quando levamos as demandas. Acham que a gente está exagerando, que não é bem assim, que a questão é social. Minha vida não foi dentro do parlamento. Foi nas favelas, quebradas, quilombo. A periferia de São Paulo recuperou a minha carreira quando fiquei isolada entre 81 a 85 porque eu estava cantando músicas de protesto”, relatou, acrescentando que as comunidades sempre sustentaram seu trabalho artístico. “Sou carioca, mas o estado de São Paulo me adotou. Meu próximo trabalho é um DVD negro que está saindo sem apoio”, pontuou.

Para a deputada  os negros são tratados como minoria pelo fato de não ocuparem pouco os espaços de poder existentes.

Invisíveis

Para o presidente do Conselho Municipal do Negro de Taboão da Serra, Comnegro, a abolição no Brasil continua inacabada 125 anos após ter acontecido. Ele alerta que o País possui uma dívida histórica com os descendentes de negros e relata que há pouco mais de 20 anos a população era “invisível” para a mídia e imprensa.

“Somos a nação de somos hoje graças ao trabalho do negro que resistiu e ainda resiste. Fomos invisíveis por 20 anos, sem espaço na mídia ou nas novelas. Esse era o retrato da sociedade que a todo instante negava os negros”, declarou.

O GCM Cruz mostrou aos participantes do evento a importância de assumir com orgulho a descendência negra e falou do aprendizado que teve com os pais.  Ressaltou a resistência característica da população negra e apontou que a educação é o caminho para superar em definitivo as barreiras sociais e econômicas.

“Antes o negro só jogava bola e cantava samba. Agora o negro está estudado. É esse exemplo que deve ser seguido. Estudar e vencer os desafios da vida”, ensinou, declarando publicamente seu orgulho com a sua raça e cor.

O coordenador  do SOS Racismo da Alesp, Cícero Almeida, explicou como funciona o órgão e falou das demandas que recebe em todo o Estado. Ele alertou que o primeiro passo para concretizar uma denúncia é registrar o Boletim de Ocorrência. Também disse que em outro eixo atua fomentando os movimentos e interagindo politicamente para que as Câmaras Municipais criem legislação e instalem comissões de combate ao racismo.

“Existem delegacias que ainda se recusam a registrar Boletim de Ocorrência sobre os crimes raciais e isso é gravíssimo. Como também é o genocídio da população negra na região metropolitana do Estado”.

Cícero Almeida disse que recebe em média 15 a 20 processos ao mês. Para ele a quantidade é expressiva, já que a maioria das vítimas ignora seus direitos.

O serviço SOS Racismo está instalado na sala 03 da Assembleia Legislativa de São Paulo e tem um Disque Denúncia contra o preconceito, a discriminação e a intolerância racial e cultural. A entidade celebra convênios com instituições públicas, organizações não governamentais e universidades com o objetivo de garantir atendimento jurídico e psicológico às vítimas da discriminação e do preconceito.

 Serviço:

SOS RACISMO

0800-77-33-886

Informações: Aqui.

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