“Tudo Por um Pouquinho de Queijo e Café” une humor e crítica social em nova montagem teatral
Divulgação
Integrantes do Coletivo Caos dos Perpétuos posam durante os ensaios da peça “Tudo Por um Pouquinho de Queijo e Café”, que estreia em maio no Teatro Escola Macunaíma.
O aroma de um café passado na hora e a simplicidade de um pedaço de queijo podem guardar mais camadas do que se imagina. É o que propõe a peça Tudo Por um Pouquinho de Queijo e Café, que estreia nos dias 23, 24 e 25 de maio no Teatro Escola Macunaíma, localizado na Rua Adolfo Gordo, 238, região central de São Paulo. A montagem promete conquistar o público com uma história que mescla leveza, regionalismo e crítica social.
A montagem marca a estreia do Coletivo Caos dos Perpétuos, formado por Brayan Lima, Danielle Szaz, Eric Costa, Henrique Souzanho e Virgínia Helena, que se uniram com o propósito de desenvolver trabalhos autorais no teatro. Esta é a primeira peça apresentada pelo grupo, que atua de forma colaborativa na criação do texto, direção, produção, figurino e cenário.
Roteiro e direção com tempero regional e provocativo
Brayan Lima, responsável pelo texto e direção da peça, se inspirou em vivências pessoais durante a pandemia, quando trabalhou em uma empresa que abusava do poder sobre os funcionários.
“A sobrecarga, os horários indevidos, as chantagens… tudo isso me marcou. Depois de estudar teatro de máscaras, surgiu a ideia de criar uma peça onde dois funcionários se revoltam contra o chefe”, explica.
O título da peça, embora curioso, carrega forte simbolismo.
“Na história do Brasil, existiu a política do ‘café com leite’. A partir disso, pensei nesses dois consumos como figuras de poder. Na nossa montagem, ‘queijo e café’ são dois chefes que se odeiam e não respeitam seus funcionários. É uma forma de revisitar a história e olhar para o nosso país”, afirma Brayan.
Personagens que transbordam verdade e afeto
O elenco é formado por artistas que encaram a atuação como espaço de descoberta.
“A construção de uma personagem é sempre algo desafiador, mas também estimulante. O maior desafio foi encontrar uma verdade dentro da estética da peça, interpretando figuras completamente fora da nossa zona de conforto”, relatam.
Além das dificuldades individuais, o coletivo também enfrentou desafios estruturais. “Sustentar nosso propósito artístico em um país que pouco investe em arte é uma luta constante. Conquistar espaços para ensaios e formar público exige resistência.”
Um dos momentos mais marcantes do processo foi o primeiro contato com o público, ainda durante os ensaios. “Expor pela primeira vez o resultado do nosso trabalho, mesmo em construção, trouxe uma sensação de realização e reforçou a força da parceria que nos move.”
Com relação ao impacto da peça, a expectativa do grupo é clara.
“Queremos que o público saia com leveza no coração e uma renovada vontade de sonhar. Apesar das dificuldades da vida real, é possível manter nossos sonhos vivos. Esperamos plantar uma pequena semente em cada espectador.”
Estética que conversa com a narrativa
O visual da peça também foi construído de forma coletiva, com referências à cultura popular e ao teatro popular nordestino.
“A escolha por um universo rural surgiu naturalmente, acompanhando o texto do Brayan. Obras como O Bem Amado e O Auto da Compadecida nos inspiraram, assim como manifestações como a Folia de Reis e o Bumba Meu Boi”, conta a equipe responsável pela estética da montagem.
O cenário e figurino foram confeccionados manualmente pelos próprios integrantes do coletivo. “Desenhamos, cortamos retalhos, fizemos crochê e criamos artes originais das personagens. Tudo feito com as mãos e com o coração”, relatam.
A linguagem visual também reforça o conteúdo crítico da peça.
“Os empregados usam roupas simples; os patrões, peças mais formais. Essa distinção evidencia a diferença de classes e conecta nossa estética à tradição da Commedia dell’Arte, onde os figurinos ajudam a denunciar figuras de poder.”
Mais que um café, um convite à vida
Com humor afiado, linguagem acessível e estética afetiva, Tudo Por um Pouquinho de Queijo e Café é um convite à reflexão sobre as relações humanas e as ausências que atravessam o cotidiano. A primeira montagem do Coletivo Caos dos Perpétuos promete emocionar e provocar o público com uma história que, embora simples na superfície, carrega densidade, crítica e muita brasilidade.
Serviço
Tudo Por um Pouquinho de Queijo e Café
Datas: 23, 24 e 25 de maio
Horários: sexta às 20h, sábado às 21h, domingo às 19h30
Local: Teatro Escola Macunaíma — Rua Adolfo Gordo, 238, Centro de São Paulo
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: bileto.sympla.com.br/event/104615
Valores: R$ 20 (meia) | R$ 40 (inteira)
Camila Joseph