Lança-perfume matou 50 jovens de Taboão em 2011

Por Sandra Pereira | 6/02/2012

O consumo de lança-perfume matou 50 jovens de Taboão da Serra em 2011, segundo o pai de uma das vítimas ouvido pelo Jornal na Net. A fórmula fatal muitas vezes é feita pelos próprios jovens a partir da mistura de componentes comprados em farmácia e comercializados em festas e nos chamados pancadões - bailes funks no meio da rua - ou nas festas marcadas pela internet. Com a proximidade do carnaval normalmente o consumo da droga aumenta.

“Quando o meu filho morreu em julho já tinha ocorrido outras 48 mortes. Foi muito rápido. Desde então eu pesquisei muito e comecei a fazer um trabalho preventivo em escolas e entidades que trabalham com jovens”, Marcos Rocha, morador da Vila Iase.

De acordo com ele o lança-perfume é feito a partir da mistura de éter, lisoform, acetona e essência de velas. O preço baixo é um dos atrativos já que cada frasco custa menos de R$ 5. Mas o efeito da droga é devastador. “O lança perfume causa ressecamento da água do corpo e provoca uma série de reações no organismo levando a falência dos órgãos vitais em poucas horas”, afirma.

O pai conta que pesquisou muito sobre o assunto e descobriu que a maioria das vítimas do lança perfume normalmente tem problemas respiratórios como asma e bronquite. Para ele, a falta de informação é um dos aspectos que mais favorece o uso do lança perfume.

“Os jovens não tem noção do risco que correm. Nosso trabalho é orientá-los mostrando o risco que vão correr se utilizarem a droga. O lança perfume é tão forte que se for colocado num copo plástico em poucos minutos ele se estoura”,conta.

Jonatan morreu em julho aos 19 anos. Era domingo. A mãe dele voltava da casa da sogra quando viu um burburinho diante de sua casa. “Quando cheguei encontrei os amigos dele agitados. Eles me contaram onde o Jonatan estava. Corri, mas era tarde.” Ele desmaiou na garupa de uma moto e foi atendido na calçada pelos paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu. Os amigos negaram que Jonatan morreu por causa da droga. “Meu filho morreu. Mas tinha morrido outro menino 3 dias antes, e outros dois no início da semana. Essa droga está matando aos montes aqui”, diz.

O “loló” é um solvente muito volátil, fácil de inalar. Diferentemente do industrializado produzido na Argentina (à base de cloreto de etila) e contrabandeado para o Brasil, o “loló” é clandestino e feito da mescla de substâncias químicas sem controle. Pode matar por infecção aguda depois de inalado. O efeito é uma sensação de euforia, seguida por depressão. Segundo o Ministério da Justiça, a composição do lança-perfume caseiro é pouco conhecida. Isso complica os atendimentos de urgência.

Vilma Vieira dos Santos, de 47 anos, fica com os olhos cheios de lágrimas ao lembrar o irmão, José Roberto, de 30. “Ele era trabalhador e muito amoroso com os quatro filhos. Nunca deu a entender que estava com problemas. Quando começei a desconfiar que estava usando drogas, tentei conversar. Ele dizia que não usava nada, não me deixava dar conselhos”, conta. José Roberto, também morador da periferia de Taboão, morreu há 4 meses, vítima da mistura de “loló” com álcool. “Até hoje é muito doído. Agora a gente sabe a dor de perder para as drogas uma pessoa querida, trabalhadora e divertida. A gente não se conforma”, afirma Vilma.

Além dos problemas físicos, os especialistas listam efeitos psicológicos graves que podem afetar o usuário da droga. “Ele fica mais vulnerável, irritado e tem atitudes reativas. Pode desenvolver uma psicose, depressão ou bipolaridade. Além disso, alucinações são comuns e a pessoa fica fora de si: vê e escuta coisas. É uma droga muito popular entre os jovens”, lamenta

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