Nem sempre estar com a razão é o mesmo que estar certo

Por Sandra Pereira | 11/09/2015

Por um monte de razões o filme Irmão Urso é o meu favorito entre os infantis. Foi o primeiro que vi no cinema junto com a minha filha, fala de viagem, tem uma trilha sonora incrível e a mensagem sobre as mais diversas formas de amor marcou minha vida. Recomendo que quem ainda não o assistiu faça isso. Observe o jovem e impetuoso Kenay. O índio adolescente que queria desesperadamente virar homem, mas antes teve que compreender a natureza do ser que mais odiava: os ursos. Logo no começo do filme o menino Kenay amarra um cesto de frutos e o faz rapidamente e com desleixo. Vem um urso e come os frutos. Ele vai atrás do urso seguido por seus irmãos. O mais velho morre para protegê-lo. Ele mata o urso a quem culpa pela morte do irmão, acaba sendo transformado em urso e inicia uma verdadeira luta para se manter vivo fugindo do seu irmão do meio que vê nele o assassino dos irmãos mais velho e mais jovem.

É um filme lindo. Já vi mais de 100 vezes e ainda choro como se fosse a primeira vez. Dias desses usei uma fala dele pra ensinar minha filha sobre responsabilidade. Às vezes a culpa não é do urso. Faz parte da natureza do urso querer o cesto de frutas. Deve fazer parte da natureza do homem amarrar bem o cesto. Protegê-lo. E é preciso reconhecer quando se falhou nisso.

 Kenay não amarrou bem o cesto. Não cuidou como devia e culpou o urso por agir como urso. Depois o matou. O urso morto era a mãe de um bebê urso que já sabia como era ser urso e que na história foi quem ajudou Kenay a sobreviver a caçada do homem que era seu irmão. Só no final Kenay descobre que o urso que matou era a mãe do jovem Koda, o ursinho que virou seu irmão. 

O filme ensina sobre as transformações que sofremos ao longo da vida. Numa ampla mensagem filosófica diz que não podemos evitar, o brigar com essas mudanças. Somos vida ligada às outras vidas e todos temos um papel que devemos seguir. Quando ganhou sua vingança Kenay não fazia ideia do que iria perder. Também é assim na vida. Nem sempre quem ganha vence. Existe um abismo que separa o ganhar e o vencer. 

Um pessoa pode estar cheia de razões e ainda assim não estar certa. Kenay tinha razão. O urso destruiu a cesta. Mas não agiu certo quando iniciou a caçada fatal contra ele. No caminho viu o irmão morrer para protege-lo, fez um ursinho bebê perder a mãe e transformou o irmão do meio num caçador vingativo.  

Só bem mais tarde quando aprendeu a entender os ursos, na perspectiva de urso, viu o tamanho do erro que cometeu. Só ai constatou que sua razão o levou por um caminho sem volta. Virou urso por amor ao pequeno Koda. Fez isso por todas as razões e certezas que encontrou no caminho. Aprendeu que a culpa não foi do urso. Evoluiu. Se perdoou e perdoou os demais. Virou símbolo do amor que ele recusou na cerimonia da sua tribo, onde cada um recebia o totem que deveria guiar sua existência. Entre estar com razão e estar certo eu escolho a vida. Como me ensinaram uma vez há muitos anos gente muito cheia de razão acaba mergulhada nela sozinha.

Sandra Pereira é Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduanda em Marketing e Comunicação

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