Educar e formar cidadãos é papel da família; ensinar é dever da escola

Por Sandra Pereira | 25/03/2015

Escola não educa e cadeia não ressocializa.  Escola ensina e cadeia pune. Quem educa mesmo são os pais. É a família quem deve mostrar o certo é errado às crianças, adolescentes e jovens. São as mães, pais, avós ou qualquer adulto a quem caiba a missão de educar que deve mostrar o certo e o errado, inclusive por meio de exemplo. Talvez não haja nada mais difícil do que formar pessoas. Também não há nada mais desafiador e necessário. É preciso de mais gente não desista tão facilmente dessa tarefa. É preciso de mais gente que acredite nos jovens e no bem comum. As escolas foram concebidas para ensinar. Nos dias atuais, dias onde prevalecem a carência de valores e políticas públicas que a sociedade enfrenta muito se discute sobre o papel que necessariamente é da família: o de educar.

É comum ouvir muita gente falar sobre o risco da criação excessivamente permissiva. Já  ouvi isso de psicólogos,  de  especialistas de educação, professores,  diretores, padres, pastores, li inúmeros artigos a respeito. Fiz meus próprios questionamentos. Recentemente ouvi de autoridades dos três poderes constituídos que a família está se furtando do seu papel primordial. Todos são unânimes em afirmar que a família ausentou-se do papel de educar e lembram que à  escola cabe o papel de ensinar.

A verdade é que os filhos do sim precisam aprender a ouvir e aceitar o não. Não pode isso, não faz aquilo, não é permito. Tudo isso é essencial à vida em sociedade.


Honestamente, nos dias atuais é impossível ignorar o risco, o medo e o terror a que são impostos professores que ainda teimam em permanecer dentro das salas de aula. Digo isso depois de ver pais os ameaçarem por terem apenas pedido o básico: respeito durante suas aulas. Jamais vou esquecer a cena de um pai ameaçando a diretora da escola Dalva Lima Jonhson porque o filho tinha sido posto de castigo. Ele não quis saber a razão, apenas impediu agressivamente que o fato voltasse a se repetir. Isso faz mais de 10 anos. Não sei que caminho o filho seguiu ou se ainda está vivo.

Professores são teimosos. Eles teimam em ensinar, resistem aos desafios impostos por condições de trabalhos ruins, salários baixos e à desvalorização que não é novidade pra ninguém, nem mesmo para os pais. Mas, o fato é que boa parte desses pais não ensina a seus filhos que preciso respeitar o professor. Que escola é lugar de aprender e que a convivência em sociedade exige o cumprimento de regras e normas que foram feitas pensando no bem comum. O  bem comum é superior a qualquer direito individual. O bem comum refere-se a todos, independente da idade, é preciso ter noção dele.


Ao longo dos meus 37 anos de vida eu me deparei com desafios enormes, entretanto, nenhum deles foi e é tão intenso, tão grande, tão difícil quanto o de educar pessoas. Como todos que me conhecem sabem tenho dois filhos. Uma adolescente de 15 anos, com quem eu aprendo mais do que muitas vezes tenho tempo de ensinar, e um menino de 6 anos. Os dois são certamente a razão da minha existência. São extensão da minha própria vida. Por força  da minha longa jornada de trabalho, o que é uma realidade comum a maioria das mulheres nos dias de hoje,  eu sei que não passo com os meus filhos o tempo que deveria. Mas, no tempo que temos juntos procuro ensinar aquilo que eles não vão aprender na escola. Mostro o caminho certo, corrijo as falhas e  lapido o caráter. É esse o papel da família e também a parte mais difícil de fazer. Levar à escola, comprar presentes, fazer o que eles querem é muito fácil. Difícil é dizer não quando eles esperam e até exigem sim. Difícil é não desistir quando eles erram. Difícil é não nos dar por vencidos quando o desafio se apresenta maior do que você espera.


Essa breve reflexão foi motivada a partir da observação da saída dos nossos jovens dentro de pelo menos três  escolas de Taboão da Serra nas últimas semanas. Pude observar alunos da escola Dr. José Inácio Maciel,  localizada no Maria Rosa, A Nigro Grava, situada ao lado do Fórum e a Laerte Almeida, no Salete. Nas 3 os jovens se comportavam como se fossem os últimos instantes de suas vidas. Como se não houvesse nenhuma regra a ser cumprida, como se não existisse nada mais importante do que gritar, do que agir como “loucos” e falar palavrões. Não espero que todos entendam ou aceitem minha reflexão. Mas me fez mal ver as meninas dançarem de forma excessivamente erotizada, levando em conta que estavam deixando a escola, o lugar onde eles devem adquirir conhecimento e não educação.

Data de muitas décadas a luta das mulheres por respeito. Ainda é relativamente jovem  a luta contra a erotização e o uso corpo como ferramenta. As duas são essenciais, se completam. Eu acredito por força da minha fé que o corpo é templo do Espírito Santo. Não  vou nem aqui falar em drogas, do consumo de bebida e entorpecentes que é um dos piores males da atualidade.

Depois de observar atentamente a saída dos jovens nessas três escolas, que acredito ser igual em todas as outras, como mãe, pensei de imediato que sentiria vergonha de ver ou saber que meus filhos agem dessa maneira. Acredito que pelo menos 80% de outras mães que eu conheço também sentiram a mesma coisa.

Eu não tenho a pretensão de resolver essa situação. Mas a minha obrigação como mãe e cidadã  que também sofre com a falta de tempo é reforçar que  é preciso encontrar tempo. Parar,  conversar e  conhecer mais os filhos que formamos. É preciso dizer não. Corrigir. E é essencial nunca desistir deles. É inerente à família o papel de educar.

 Cresci numa região rural no interior de Alagoas e algumas vezes eu vi de perto “estouro de boiada”, que é  quando vaqueiro perde o controle e o rebanho sai em disparada por todos os cantos sem respeitar nada que tivesse a sua frente. Lembro que muito pequena eu sentia medo de ser atropelada por uma vaca por um boi que passava correndo descontrolado.

Foi com estouro de boiada que eu comparei a saída dos nossos jovens nas escolas que citei. Foi a primeira imagem que me veio à mente diante daquele total descontrole, da correria, da gritaria e dos fatos quase indescritíveis na saída das aulas. Senti por instantes o mesmo medo infantil de ser atropelada por eles, o rebanho da porta das escolas. Voltei a me sentir pequena.

Pessoalmente eu não acredito na educação permissiva. Não faço parte do time que permite tudo. Por causa disso sou constantemente questionada pela adolescente que tenho dentro casa. Porém tenho muito orgulho disso. Não posso garantir que algum dia os meus filhos não venham a se comportar como um estouro de boiada. Há decisões que são unicamente deles. Entretanto, no que depender de mim a boiada vai ficar unida, junta e de forma organizada como deve ser.

 Não quero ser interpretada como preconceituosa, ou que procuro reprimir os direitos juvenis. Jamais faria isso. Jovem precisa de liberdade para sonhar,  lutar, brigar por seus objetivos e principalmente de acreditar. Porém temos que reconhecer que a nossa juventude está perdida e sem rumo. Os nossos jovens não têm oportunidade mas também não valorizam as que encontram. A maioria deles sofre da falta mais essencial: a da família, que vem acompanhada da falta de Deus, de experiências e de  educação. Porque o ensinar ainda é missão dos professores, como aprender é dever dos alunos.

 Quem leu até o fim as minhas palavras talvez possa guardar dentro do coração a síntese de todas elas: nós não podemos desistir dos nossos filhos. Não podemos deixar que eles se comportem como uma boiada sem rumo. Não podemos aceitar que eles desacreditem ou que escolham caminhos que um dia nos levem ao doloroso caminho da cadeia, que não vai ressocializar,  ou do cemitério, que é sem volta.

Sandra Pereira é mãe, jornalista, mulher, idealista, otimista e acima de tudo sonhadora. 

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