Mestre Assis do Embu uma história de vida e amor à arte

Por Sandra Pereira | 21/03/2014

Já faz sete anos que Embu das Artes perdeu um dos seus maiores e mais importantes artistas: o Mestre Assis de Embu. Ele fez da arte sua vida, amor e legado. Partiu deixando uma vasta produção cultural, sete filhos, esposa e reconhecimento que extrapola as fronteiras nacionais. Neste dia 21 ele completaria aniversário de nascimento. O “barraco” do Assis onde o mestre dividiu com a esposa e filhos a convivência com vários artistas ficou famoso entre personalidades e intelectuais no auge de sua existência. O local se tornou foco de resistência à ditadura militar.

A arte habitava o espaço e seus habitantes em toda a sua essência. No barraco localizado entre a rua Siqueira Campos até a Padre Belchior se tornou um símbolo da resistência cultural. Lá a coletividade se sobrepunha aos interesses pessoais e todos compartilhavam tudo.

“O barraco do Assis sempre recebeu muita gente. Vários artistas importantes passaram por lá antes de conquistar sua casa aqui no Embu. Lá meu pai ensinava amigos e criança. Me recordo das festas e da presença dos gringos. Uma vez recebemos os novos baianos”, lembra saudoso Bira do Assis, filho do Mestre Assis. 

O barraco do Assis protagonizou fatos pitorescos nos anos de chumbo da ditadura militar. O delegado Jorge Miguel se infiltrou no barraco para ver se havia comunistas lá. Depois se tornou amigo do Mestre Assis e acabou contando pra ele que estava lá a pedido do Dops. O mestre também foi denunciado por um açougueiro aos militares por conta de uma dívida contraída para alimentar os muitos moradores do barraco. 

Quando o Mestre Assis chegou a Embu em 2 de outubro de 1959 não imaginava a relação que teria com a cidade e a arte. A família se queixa que amor incontestável dele pela arte e pelo Embu jamais foi reconhecido pelo Poder Público. Um dos filhos dele, Bira do Assis, luta para manter acesa a chama da arte e da vida propagada pelo pai. Ele lamenta o falecimento do irmão, Didi, que segundo o Mestre Assis seria melhor que ele mesmo.
“Enquanto eu viver e estiver aqui vou levar a arte e o nome do meu pai. Ele está vivo na memória de muita gente pelo mundo afora. Foi meu Pai que fez o Embu ser das Artes, embora nunca tenha tido o reconhecimento devido. Sempre faço trabalhos e levo o nome do pai à várias atividades. Fizemos 4 semanas Mestre Assis e agora não tivemos mais apoio. O poema dele, Margaridas, é recitado e lembrado com frequência”, afirma Bira. 

Ele lembra que inicialmente o pai foi atraído pelo artista Cássio M’ Boi o Mestre Assis, que se tornou ao lado de Solano Trindade e Sakai de Embu os pioneiros na luta pela arte. Eles faziam verdadeiras incursões à praça da República divulgando sua arte e trazendo visitantes para conhecer Embu das Artes e sua incipiente produção cultural. 

“Meu pai é muito homenageado lá fora e ainda é pouco reconhecido na cidade. Não podemos deixar a memória dele se perder”, observa. 

A vida do Mestre Assis é repleta de fatos pitorescos. O filho lembra quando um general foi deposto depois de literalmente “cair na farra na companhia do pai”.

De Minas Gerais para o Mundo


O Mestre Assis nasceu na cidade mineira de Campos Gerais no dia 21 de março de 1931. O nome de batismo Claudionor Assis Dias perdeu a força diante do nascimento do mestre das artes. Assis não conheceu os pais biológicos, foi adotado por um alfaiate de uma tradicional família mineira. Era afilhado da família Mourão que o queria ajudar a se formar advogado. Mas o amor do mestre pela arte o impediu de voltar e completar os estudos. Foi motivado pelo desejo que conhecer a mãe biológica que ele saiu de Minas para São Paulo. Aqui conheceu Cássio M’ Boi, Sakai e Solano Trindade. Os três juntos viveram os anos dourados da arte embuense. 

Foi na infância que o gosto pela arte, tomou o mestre. Ele se divertia ao esculpindo bonecos com barro e madeira. Também tinha apreço especial pelo teatro, que no futuro lhe rendeu participação em vários filmes. 
Antes de fincar raízes em Embu das Artes o mestre Assis esteve em São Paulo. Passou quase dois meses sem ter residência fixa, foi engraxate, pedreiro, sofreu as amarguras de quem vive nas ruas, foi preso e por fim resolveu voltar a Minas Gerais. Antes disso, em 1954 ganhou o primeiro lugar no prêmio de uma exposição patrocinada pelo SESI e participou de algumas exposições.

Comentários