Justiça de Taboão da Serra errou em prisão de inocente

Por Outro autor | 22/11/2011

Um motorista de Taboão da Serra passou quatro anos enjaulado por causa de uma sequencia – verdadeiro calvário – de absurdos. O rolo todo começou na Delegacia de Polícia local, no dia 17 de outubro de 2001. Uma enfermeira folheava o álbum de retratos de bandidos e apontou: “É este aqui”, dizendo ser o cara que a tinha assaltado e metido um tiro em seu joelho por volta das 21h30 na cidade de Taboão da Serra.

Só que na hora daquela trêta, Fabiano Ferreira Russi, na época com 25 anos, estava em seu emprego de manobrista e mensageiro num hotel quatro estrelas na Vila Madalena.
Mas... por que a foto dele estava no álbum de marginais? “É ele, mesmo!”, insistiu a enfermeira M.R.A.

Fabiano, que jamais tinha ido em cana, nem entrado em confusão, não conseguiu provar que estava trabalhando na hora do assalto. O juiz exigiu que o hotel desse um atestado afirmando que o rapaz era gente boa. Mas o dono achou que o nome do hotel iria sair em páginas policiais, e se negou.
“Foi ele”, voltou a garantir no Fórum a vítima. A mulher ainda disse que Fabiano a vinha ameaçando. A foto dele até estava no álbum de ladrões, nénão?


Prisão

Depois de 11 dias na cadeia do DP de Taboão da Serra, Fabiano foi para o Cadeião de Itapecerica. Três meses socado com 37 presos numa jaula feita para 12 homens. Depois, mais 90 dias no Cadeião Parelheiros. Dali, levado para a Penitenciária 2 de Lavínia (SP), lá perto do Mato Grosso.
Se ele fosse homem de bem, a foto dele não estaria no álbum da Polícia, concorda?

Fabiano dando aula para colegas na penitenciária

Na penitenciária, Fabiano estudou o Código Penal, leu e releu seu processo. Deu aulas de alfabetização para os colegas presos. Mandou carta para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). A carta chegou às mãos da advogada Maíra Coraci Diniz, da Defensoria Pública, que se tornou o anjo da guarda de Fabiano. “Quando me prenderam eu não tinha os R$ 20 mil a R$ 30 mil que os advogados criminalistas queriam”, relembra. Acharam um advogado mais barato. Mas... era tributarista...

Em 2009 Fabiano prestou exame no Enem. E por ter dado aula pros amigos de cadeia, ganhou direito ao regime semiaberto.

No dia 13 de outubro último Fabiano Ferreira Russi ganhou a liberdade total. A Justiça admitiu que ele foi preso “por engano”. Fabiano confessou para o repórter Paulo Sampaio, do jornal Estadão, que não quer nem ver a enfermeira que o mandou para trás das muralhas. “Ela mora aqui em Taboão, mas não tenho vontade de procurar. Deixa ela viver a vida dela”.


Por causa de um rojão

Agora Fabiano só quer tocar a vida com sua esposa cabeleireira, sustentar os quatro enteados. E devolver um pouco de alegria ao pai metalúrgico e à mãe, das prendas do lar...
Mas exige indenização do Estado por tudo o que perdeu, pelo que deixou de ganhar e viver devido a erros das autoridades.

A advogada Maíra Coraci Diniz critica que em Taboão da Serra não há Defensoria Pública. “Senão, ele teria sido assistido por um advogado na primeira vez em que esteve no fórum.”
Pior é que a enfermeira vítima dizia que seu ladrão tinha estatura mediana. E Fabiano tem 1,90m de altura.

Mas... e a foto dele no álbum da Delegacia?

Foi por causa de um domingo em junho de 1998. Fabiano ia num ônibus que levava torcedores do Santos ao Estádio do Morumbi. No caminho, blitz policial. Enquanto os PMS davam uma revista nos passageiros, um safado soltou um rojão. Os “hômi” encresparam. Todos para o distrito. O delegado mandou fazer fotos de todo mundo, e os liberou para o futebol.

O retrato de Fabiano, sem qualquer passagem pela polícia, ficou lá no álbum da bandidagem, à disposição do engano da enfermeira.
Vai vendo...

David da Silva - publicado no Bar e Lanches Taboão

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