Litro do leite ficou R$ 1,45 mais caro desde o começo do ano

Por Outro autor | 1/08/2018

O preço médio pago pelo litro do leite subiu 67% desde o início do ano e azedou em R$ 1,45 o bolso dos brasileiros que compraram recentemente o produto nos supermercados.

De acordo com dados revelados semanalmente pela Fundação Procon, o litro do leite custava cerca de R$ 2,16 na primeira semana de 2018 em São Paulo. Hoje, a mesma quantidade do produto sai por, em média, R$ 3,61 pelas prateleiras da capital paulista.

O fenômeno da alta do preço do leite no ano não foi restrito aos consumidores e a São Paulo. A última divulgação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) aponta para uma valorização de 35,68% no valor do leite longa vida no Brasil.

Ao longo do período de sete meses, o valor do líquido aos produtores saltou 47,7% e aparece vendido por R$ 1,47, maior patamar desde setembro de 2016, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), André Braz, explica que a alta do preço do leite está diretamente ligada ao período sem chuvas, à valorização do dólar e à greve dos caminhoneiros.

“Neste período do ano, as condições de pastagens ficam ruins, porque chove pouco e se tem uma queda no volume de captação do leite, o que é natural. Além disso, a gente teve uma desvalorização cambial, que encareceu muito o preço das rações para trato animal, ricas em milho e soja, grãos com preços cotados no mercado internacional”, analisa Braz.

A analista de mercado do leite do Cepea Juliana Cristina dos Santos comenta que a falta de chuvas durante a entressafra limitou a produção e puxou os preços para cima. “A oferta do leite no mercado está limitada desde o mês de fevereiro, o que justifica a valorização do produto“, afirma ela, que também relaciona a alta à greve dos caminhoneiros e uma tentativa dos produtores de "normalizar a atividade com a reposição dos estoques".

Ao comentar especificamente sobre o impacto da greve na disparada do preço do leite, Braz recorda que a paralisação dos caminhoneiros causou prejuízo aos produtores da bebida, que precisaram jogar fora milhares de litros de leite e agora repassaram os custos aos consumidores.

Alternativas

Para conter o preço dos alimentos que ficam caros repentinamente, o pesquisador da FGV orienta que a população faça um “exercício da renúncia parcial” para limitar o aumento dos preços do leite. “Se reduzir a quantidade consumida, isso já ajuda a limitar o aumento do preço, porque se a oferta do produto é menor, mas a demanda também é, você não sustenta o aumento de preços”.

“É uma arma que nós temos, mas que é pouco utilizada”, lamenta Braz, que destaca a redução de consumo do leite como válida para o caso de adultos e não recomenda o corte para crianças e idosos, devido às alimentações menos complexas em outras fontes de proteína.

Braz ainda menciona que os consumidores podem substituir o leite neste momento de alta por outros produtos similares, como os fabricados com soja, que, segundo ele, “não têm preços muito competitivos”.

Próximos meses

A valorização do leite nos supermercados deve estar com os dias contados. Para Juliana, as “altas expressivas” já tendem a ser interrompidas ao longo deste mês. “A gente prevê que para agosto devemos ter uma pequena alta ou uma estabilidade nos preços”.

Em um olhar mais prolongado, Braz afirma que a entrada da Primavera vai trazer de volta as chuvas a ocasionar uma desaceleração dos preços. “Não estou bem certo de que vai ser devolvida toda a alta acumulada ao longo do primeiro semestre, mas há uma boa chance de isso acontecer logo a partir do final de agosto”, avalia o pesquisador.

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